|
|
|
A afetividade gastronômica do chef Shin Koike é tema de livro da Editora Melhoramentos
|
O produtor cultural Jo Takahashi, que esteve à frente da Japan Foundation em São Paulo por quase três décadas, investiu dois anos em pesquisa para obter uma radiografia do processo criativo de um dos mais importantes chefs da culinária autoral japonesa no Brasil. Através desse registro, o leitor poderá desvendar o universo íntimo do chef Shin Koike, um cozinheiro que alia, com habilidade,
sua formação de artesão com uma postura de artista, propondo uma culinária para alimentar o corpo e a alma. |
|
Chega às livrarias em novembro, pela Editora Melhoramentos, A Cor do Sabor – A Culinária Afetiva de Shin Koike, do arquiteto e produtor cultural, Jo Takahashi. Com deslumbrantes imagens do fotógrafo Tatewaki Nio, o livro reúne conceitos sobre a cozinha do chef Shin Koike, um japonês que adotou o Brasil como cozinha para praticar sua gastronomia autoral.
Em 2008, ano em que celebrou-se o Centenário da Imigração Japonesa no Brasil, Jo Takahashi, nomeado curador cultural da festividade, verificou que, apesar da simpatia com que os brasileiros adotaram a culinária japonesa, os cozinheiros e restaurantes não produziam essa gastronomia seguindo os preceitos de sua cultura.
Preocupado em orientar devidamente os apreciadores e produtores dessa gastronomia, o autor procurou Shin Koike, um dos mais conceituados chefs do Brasil. Na ocasião, Koike acabara de ter seu restaurante escolhido, por um juri especializado, como o melhor restaurante japonês do ano de 2009 pela Revista Veja São Paulo. Juntos, através desse projeto editorial, procuraram capturar as essências e os fundamentos da cozinha de Shin Koike, além de sua filosofia e os principais conceitos de seu trabalho. Foram mais de 50 encontros, uma viagem gastronômica à Ilha Grande, incontáveis e-mails trocados e mais de 100 receitas registradas. O objetivo inicial, que seria o de traçar um manual para um melhor entendimento sobre a culinária japonesa, acabou se transformando num livro-conceito, no qual, a partir da rotina de trabalho do chef, foi possível deslumbrar um minucioso processo de construção de pequenas obras de arte que são as suas receitas. A dificuldade da pesquisa foi extrair informações nas quais o empírico se sobrepunha ao método. Em que o intuitivo era mais importante do que os manuais de cozinha.
Os ensinamentos da cultura japonesa
O maior legado de Shin Koike para os brasileiros, segundo o autor, é mostrar que a culinária é uma arte muito específica, que alia sua formação enquanto artesão da cozinha ao senso estético, criativo e propositivo. Mais ainda, a sintonia com as estações do ano. Isso envolve a preparação e a conscientização do corpo para que os utensílios, facas e talheres operem em perfeita comunhão com o corpo, como se fossem uma extensão dele e a consciência do tempo. “Com Shin Koike, aprendi que a culinária é uma arte completa. Ela é extremamente visual e, mais do que isso, é tridimensional, compondo os espaços do prato. Ela inspira pelos aromas, pelo paladar, pela afetividade. E no caso da cozinha de Shin Koike, ela é muito musical também, pois os pratos recebem uma trilha sonora que realça seus sabores”, conclui Jo Takahashi.
A fotografia de Tatewaki Nio
Ricas imagens revelam as fabulosas cores da charmosa estética adotada por Koike, ilustrando de forma surpreendente a intimidade ali existente entre a culinária japonesa e os sabores do Brasil.
Para extrair o universo de Shin Koike era preciso uma câmera atenta, mas silenciosa, que se comportasse como uma sombra, pois o chef não faz cena e nem é ostensivo. Por isso, sua concentração, sua intuição e, acima de tudo, sua afetividade no preparo dos pratos precisavam ser registrados sem a exuberância de uma produção fotográfica. O autor solicitou a ele imagens que reproduzissem com fidelidade o dia a dia do chef. As imagens não receberam tratamentos especiais, especialmente nas fotos dos pratos executados por Shin. Tatewaki Nio também prefere essa naturalidade em seu trabalho.
Apesar do silêncio no processo de captar as imagens, o resultado chegou a surpreendentes 8.000 fotos, das quais foram selecionadas cerca de 100 para o livro.
O design gráfico do livro
Numa cumplicidade visual com as fotografias de Tatewaki Nio e numa sintonia fina com o texto do autor, a artista gráfica Erika Kamogawa desenhou um livro com toques de sutilezas visuais, que certamente encantarão os olhares mais sensíveis e atentos. “Tentei desenhar o livro com o coração”, admite a designer, demonstrando sua sintonia também com o fazer artístico do chef Shin Koike.
A Cor do Sabor não é um livro de culinária em sua proposta. É um livro-conceito, ou um livro-processo, no qual o leitor poderá flanar pelos conceitos gastronômicos do chef Shin Koike, seja através das receitas, seja através dos diversos bate-papos com outros artistas, como o músico Ed Motta, a ceramista Kimi Nii, o hair designer Hideaki Iijima. Ou até mesmo viajar, numa expedição gastronômica à Ilha Grande, no litoral do Rio de Janeiro, num projeto cujo objetivo era buscar a essência dos sabores simples, um desafio para quem lida com a complexidade dos sabores no dia a dia.
|